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O sinal de alerta que o caso Vini Jr dispara no Brasil

Rudolph Hasan, Cientista Social (UERJ), Mestre em Sociologia (UFF) e pesquisador da explosão de grupos de ódio e intolerância no Brasil

Em 29/05/2023 às 18:56:30

Alguns canais de comunicação publicaram, nos últimos dias, matérias sobre os Yomus, grupo neonazista que compõe a torcida do Valência que, por se localizar atrás do gol no Mestalla, foi responsável pelo início das agressões racistas contra Vini Jr, que se alastraram por boa parte do estádio.

O fato ocorrido nos gramados chocou muita gente, mas não é isolado e também não representa um fenômeno novo. O crescimento de grupos de ódio nos últimos anos é um fenômeno mundial e o Brasil não escapa a essa epidemia de intolerância. Em levantamento publicado em junho de 2020, através de matérias em veículos de comunicação, a ONG Safernet, que monitora sites radicais nas redes, apontou que até maio daquele ano foram criadas 204 novas páginas com conteúdos de ódio, frente às 42 do mesmo período do ano anterior e às 28 monitoradas em 2018.

O crescimento dos grupos de ódio no Brasil acompanha uma tendência mundial, que pode ser explicada por diversos fatores, como a própria crise das democracias liberais, o fracasso de políticas de inclusão, sucessivas crises econômicas e ondas migratórias causadas por conflitos, dentre outros. Contudo, a explosão da intolerância no Brasil possui características mais específicas e teve, inegavelmente, grande impulso durante o governo Bolsonaro. A aferição do crescimento das páginas de ódio no período já nos proporciona um dos vários elementos para a constatação.

Nos últimos quatro anos, não foi incomum notar os acenos que membros do governo Bolsonaro faziam a grupos extremistas. O flerte com a estética autoritária pode ser observado quando o ex-secretário de Cultura, Roberto Alvim, copiou trechos de um discurso de Goebbels, ministro da Propaganda Nazista, para divulgação de um prêmio, em janeiro de 2020. Outra clara sinalização às células de ódio se materializou quando, durante uma sessão no Senado, o, à época assessor internacional da Presidência da República, Felipe Martins, fez um sinal com a mão relacionado aos supremacistas brancos dos Estados Unidos, significando “White Power” – Poder Branco – em livre tradução. Poderíamos citar ainda as saudações nazistas praticadas por adeptos de atos pró-intervenção militar e favoráveis ao bolsonarismo, além da emulação das machas das tochas nazistas, praticada em 2020 contra o STF sob a liderança de Sara Winter, notória apoiadora do bolsonarismo à época.

Voltando ao caso Vini Jr, as agressões sofridas por ele na Europa revelam que, por trás de um estádio lotado e tomado por impulsos de intolerância, sempre há um ou vários grupos menores, radicalizados, amparados em convicções ideológicas e bem estruturados que fomentam e delimitam, em última análise, o comportamento da massa. Claramente, um comportamento similar nós observamos por aqui, quando os atos contra a democracia do dia 8 de janeiro desse ano nos mostraram, de forma objetiva, o poder de articulação e a capacidade de mobilização daqueles que, insatisfeitos com a derrota eleitoral, insistirão no não reconhecimento das urnas.

Já passou da hora de implementarmos políticas de investigação e prevenção a intolerância no Brasil. Grupos de ódio, muito bem organizados, se multiplicam nas redes e já se materializam em estádios, protestos e em atos violentos. Nesse momento são gritos de “macaco” e depredação dos símbolos da democracia. O que virá depois?


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